26 novembro 2010

Green Bay Packers @ Minnesota Vikings - semana 11

E pronto. Demorou 11 semanas. Aquilo que se antevia, desde tempos atrás, aconteceu. Brad Childrees foi “convidado” a arrumar a sua secretária, emalar os seus pertences e desaparecer de Minnesota. Foi preciso nova humilhação, para os fãs dos Vikings respirarem finalmente de alívio. Tal como em Dallas, era notório que a equipa tinha desistido de lutar. Não sendo agora a altura certa para enfatizar o termo “profissionalismo”, os jogadores dos Vikings deixaram de respeitar o seu head coach. Até ao limite do sustentável, o dono da franquia foi mantendo a confiança. Depois do correctivo duplo, aplicado de forma cirúrgica pelos rivais de divisão Bears e Packers, a paciência esgotou-se.

Nos próximos dias muito se escreverá sobre o legado de Childrees, em 5 anos de comando dos Vikings. Muitos erros serão assacados. O maior de todos, parece-me, aconteceu em Agosto, quando se apostou um “all-inn” em Favre, recrutado do seu idílico retiro, numa missão que mostrou o que se pretendia: a ânsia de vencer um SB, em detrimento das regras básicas. Nenhum jogador pode ficar acima da equipa, num pedestal que o torna imune a críticas ou a maus jogos. A história dos Vikings 2010 é pois uma espécie de fábula, que será contada no futuro por avós aos seus netos, à beira duma lareira. “Tenham cuidado com o que desejam, e com o que hipotecam para obter”. Childrees foi atraiçoado pela ambição desmedida. Leslie Frazier assume, para já, o leme principal, ficando o cargo de coordenador defensivo nas mãos de Fred Pagac, até agora treinador do corpo de linebackers.

Mas vamos ao pesadelo. Pela 2ª semana seguinte, os Vikings perdem. São humilhados, num duelo com o rival de sempre. E pouco existe para dizer. A equipa de Minnesota parecia que estava num qualquer jogo, a desempenhar o papel de “morto”. O que se pode escrever quando a diferença entre ambas as equipas foi tão gritante? O que se pode extrair de positivo numa derrota contundente, depois de se ter visto algumas das mais patéticas intervenções da temporada? São perguntas retóricas, mas que merecem alguma reflexão.

O que esteve bem?

Sidney Rice. É estranho apontar um receiver, vindo de uma longa paragem, como um dos factores positivos do jogo. Mas foi verdade. Rice jogou com coração. Com raiva. Deu o melhor de si. Apareceu solto, em várias rotas. Fez bloqueios. Mostrou emoção.

Ray Edwards. Teve uma atitude competitiva. Ao contrário de muitos. Tem sido o mais destacado elemento do front four. Competente, concentrado, lutou até à exaustão, procurando contrariar o resultado. E vê-lo, aos gritos, na linha lateral, é apenas um argumento que comprova tudo. Ele sentiu a raiva e o desespero da derrota. Mas até ali parecia que berrava com um bando de apáticos, que estavam anestesiados.

Ryan Longwell. Esta temporada de 2010 tem tido tempos crispados para os Kickers. Por isso, quando Longwell colocou Minnesota à frente, no marcador, após concretizar um field goal perfeito, de 51 jardas, foi tempo de celebração. Justa, mas precoce, face ao que estava para vir.

Aaron Rodgers. E não. Não é engano. A dignidade de Rodgers, no final, camuflando a exultação que a vitória lhe provocou, abraçando Favre, foi um momento de enorme nobreza. E que define os envolvidos. Não sei se ambos tinham uma relação de amizade em Green Bay. Ou, por outro lado, se Rodgers ficou com algum mal-estar em relação a Favre. Mas o desporto é igualmente isto. Convivência, distinção de carácter, decência e decoro. Rodgers foi enorme, na demonstração pública disso tudo.

O que esteve mal?

A linha ofensiva. Se esteve em campo, não dei por ela. Foram horríveis, sem excepção.

A linha defensiva [excepto Ray Edwards]. Poderia copiar o que escrevi acima. Aliás, é o que vou fazer. Se esteve em campo, não dei por ela. Foram horríveis, com a excepção referida.

Brett Favre. Começa a ser recorrente, nesta coluna. Também aqui se aplicam todos os termos e adjectivos usados acima. A exibição de Favre foi má. Demasiado má, falhando sistematicamente receivers abertos ou enviando passes péssimos. E claro, com a sua já habitual dose de intercepções, ranking que ele lidera destacado, na NFL.. Favre tem destruído criteriosamente o seu enorme legado, no futebol americano. Alguém lhe deveria ter dito isto, dado que o seu ego descomunal não consegue admitir tal coisa.

Secundária. Parecia um concurso, para ver quem fazia pior do que o parceiro do lado. Foi uma tarde para esquecer. Ou relembrar, conforme os propósitos. Abdullah, que tem sido fiável, teve um drop ridículo, com o resultado em 3-3, e uma participação activa no festim de Greg Jennings. Asher Allen igualmente teve uma participação ruinosa na maioria das suas intervenções, sendo o alvo da fúria de Edwards na sideline.

Toby Gerhart. É rookie, e isso poderá ajudar a perceber a inconstância do seu jogo. Gerhart tem vindo a desenvolver e a melhorar o seu jogo, com um par de boas corridas, tal como tinha já feito contra os Bears. Mas depois, a tendência para cometer fumbles arruína todos os seus esforços. O “White Rhino” pode ser uma peça fulcral, no futuro próximo, no jogo ofensivo dos Vikings. Mas agora simplesmente não acrescenta nada de novo. E, neste estado actual de coisas, é mau.

Adrian Peterson. Calma. Não estou a penalizar o running back pela derrota. Peterson foi ele mesmo. Um 1º período excelente, com algumas jogadas electrizantes e ganho significativo de jardas. Mas apenas durou esse tempo. 15 minutos. Depois, o melhor running back da NFL foi mais vitima do que réu, no destempero de Childrees, quando aparentemente o técnico invocou a bizarrice estratégica de “let’s not run after this quarter”. O resultado está à vista.

Brad Childrees. Se estivéssemos numa sala de tribunal, era agora que o juiz chamaria o réu principal. E este, cabisbaixo, levantar-se-ia em silêncio, com um ar contrito e pesaroso, pronto a ouvir sem replicar a sentença. Não é preciso dizer muito mais. Childrees apostou tudo esta temporada, numa jogada arriscada. Perdeu. Pelo meio, fica uma mão cheia de asneiras, num play book deficiente e que não extrai o melhor dos seus atletas.

E pronto. Globalmente, é isto. Gostava de poder escrever que os Vikings vão vencer os próximos jogos e acabar com um recorde de 9-7. E que irão obter, na última semana, a vaga para o wild card. Mas todos nós sabemos que isso não acontecerá. Mesmo com a mudança de treinador, as constantes más exibições, em demasiados sectores, apenas avolumam as dúvidas quanto ao futuro imediato da equipa. É que, bem vistas as coisas, 6 derrotas nos próximos 6 jogos sempre teriam algo de positivo. Uma provável 1ª escolha no próximo draft e Andrew Luck com o equipamento dos Vikings no próximo ano.


O próximo adversário

Dúvida existencial: Terá Leslie Frazier a coragem necessária para sentar Favre e dar uma oportunidade a Tarvaris ou mesmo a Joe Webb? Com 3-7, o que é que os Vikings têm a perder? NADA!

O adversário: Não conheço minuciosamente o adversário. Apenas aquela curiosidade típica do comum adepto da NFL, pesquisando as estatísticas e vendo uns highlights dos Redskins, me permite ter uma opinião formada, por mais vaga que seja. Tendo colocado um ponto final na dúvida sobre a titularidade de McNabb, com a prorrogação do contrato do veterano, a equipa da capital tem-se debatido com uma irregularidade tremenda. Esmagada em Washington pelo rival de divisão, os Eagles, foram vencer fora os Titans, mantendo a esperança em vencer a divisão. Tarefa hercúlea, mas possível, dado o acasalamento de vários jogos divisionais nas próximas semanas. Com Clinton Portis recuperado (na altura certa, dada a baixa de Ryan Torain), o jogo corrido encontrou outra referência, em Keiland Williams. McNabb tem distribuído os seus passes pelo incontornável Santana Moss e por Anthony Amstrong, sendo sempre uma ameaça no pocket, desde que a linha ofensiva lhe conceda tempo. Mas é mesmo sobre o veterano que se avolumam algumas interrogações. Com apenas 10 passes para touchdown, sem grandes armas ofensivas (Galloway não é, claramente, uma opção válida), será necessária toda a experiencia de McNabb para aproveitar as oportunidades. Os Redskins têm tido alguma fiabilidade a nível defensivo, com alguns atletas a destacarem-se (DeAngelo Hall, que ainda hoje deve provocar pesadelos a Jay Cutler, ou LeRon Landry), mesmo após a novela que envolveu Albert Hainesworth.

Como vencer: A receita é antiga. Começar por aplicar pressão sobre a OL contrária. Como, sinceramente, é que não sei. Leslie Frazier não é grande adepto de blitzes e o seu front four não tem conseguido atingir o nível do ano passado. Calculo que com o despedimento de Childrees, o âmago dos jogadores tenha sido atingido. Não se jogará pela vitória. Mas pela honra. Para além disso, o que se pode dizer do ataque, mesmo com Favre ou Tarvaris no pocket? Dada a boa forma de Peterson, e ao contrário do que tem sido feito, seria de privilegiar o jogo corrido, em detrimento do passe, que parecia ser uma obsessão no reinado do antigo treinador. Seja quem for o quarterback, é necessário apenas uma coisa: precisão. Não se pedem passes mágicos, de 50 ou 60 jardas, em busca de Harvin ou Rice. Exige-se apenas uma eliminação razoável dos turnovers, que têm aniquilado a equipa. E, claro, aproveitar qualquer ida à red zone, que tem constituído o calcanhar de Aquiles do jogo ofensivo. A incapacidade de finalizar com sucesso as jogadas, naquela zona importante do campo.

nota: texto originalmente publicado no quarterback


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