10 novembro 2010

Bodes expiatórios

Com a devida vénia, transcrevo um texto retirado do "a origem das espécies", local de passagem obrigatório na blogosfera. Óptimos textos, ode à boa literatura e uns assertivos artigos sobre o mundo do pontapé na bola.
No arranque do campeonato, o benfiquismo (as primeiras páginas de A Bola e do Record) fabricou um bode expiatório — Roberto. Castigando e humilhando Roberto salvava-se o Benfica: retire-se Roberto da baliza e temos a pureza virginal do Benfica, a que era apenas preciso acrescentar umas alas mais eficazes. Depois, Roberto defendeu um penalti e ganhou confiança — era o novo herói do Benfica, o vértice luminoso de um polígono de glórias destinado a subir pela tabela e atacar o título. A partir de agora, o benfiquismo (as primeiras páginas de A Bola e do Record) encontrou uma nova desculpa: Jesus, o homem que se limitou a desviar David Luiz para a faixa de Hulk, a fim de parar o tufão que no ano passado foi impedido de jogar. Humilhando Jesus, que no ano passado pôs o Benfica a jogar como não acontecia há vinte anos, salva-se o Benfica. É toda uma doutrina sobre danos colaterais. E dizer, com clareza e simplicidade, que o FC Porto ganhou o jogo de ontem porque foi superior? Está quieto. Melhor é inventar um novo bode expiatório.

Francisco José Viegas in A Origem das Espécies.

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