13 agosto 2010

Oh When The Spurs Go Marching In*

A Premier League está de volta, para enorme satisfação dos seus aficionados. Tendo nutrido, durante um período específico, uma fervorosa dedicação ao Chelsea, sinto-me actualmente orfão, desde a saída do Special One de Londres. Não posso com o ar circunspecto de Ancelotti, nem com as nuances tácticas do italiano. Sigo a competição com aquela ansiedade e entusiasmo típico de quem venera, acima de tudo, o futebol. A competição, pura e dura. Os golos. As grandes defesas.

Mas assistir futebol sem o necessário fervor clubista é como beber uma cerveja sem álcool. O produto é igual, aparentemente, mas o sabor é totalmente distinto. Assim, resolvi ressuscitar um dos amores antigos, paixão à muito esquecida, perdida num limbo das relações que, desaparecido o fulgor, vivia abandonada. Até hoje.

Este vai ser o campeonato das cores do Tottenham. Os Spurs, clube histórico mas que tarda a encontrar-se com os feitos do passado, conseguiu algo de inolvidável, na temporada anterior. A classificação para a pré-eliminatória da Liga do Campeões. Aos seus comandos, com um rosto rubicundo e bonacheirão, Harry Redknapp.

Surpreendentemente [ou talvez não] o Tottenham tem mantido um recato notável no mercado das contratações. Daniel Levy, o presidente do clube, sempre pisou a ténue linha entre a euforia e a depressão, como se padecesse de um qualquer distúrbio bipolar. Ora gasta exorbitantes quantias no mercado, capaz de trazer para White Hart Lane jogadores como Berbatov ou Edgar Davids, ou mergulha numa avareza que impede o clube de apresentar novas caras.

Esperava-se que, após o erro de casting que foi Juande Ramos, técnico espanhol que conseguiu a "notável" proeza de coleccionar 2 pontos nas 8 primeiras jornadas, o resgate encetado pelo substituto Redknapp, com a referida qualificação continental para a prova de elite de clubes, fizesse Levy enfrentar o mercado de transferência com uma atitude sensata...mas activa.

A poucos dias do início da Premier League e a menos de uma semana do jogo que poderá levar o Tottenham ao sonho de disputar a Champions, o plantel às ordens de Redknapp continua imutável. Apenas Sandro [quem?], brasileiro contratado ao Internacional, para afirmar que existe uma cara nova em Londres. No entanto, o centro-campista canarinho não deverá ser uma opção imediata, dado que naquela zona nevrálgica a titularidade tem sido concedida a Palacios e a Huddlestone. Ambos fortes, combativos, capazes de aportarem igualmente características de ataque ao seu futebol, foram peças preponderantes na manobra da equipa, na temporada finda.

No sector defensivo, mora uma peça de valor quase incalculável. Internacional galês, Gareth Bale consegue ser um híbrido, capaz de desempenhar facilmente as funções de defesa ou, em alternativa, funcionar como um ala/médio esquerdo, onde o seu formidável pé provoca estragos nas hostes adversárias. Com o camaronês Assou-Ekotto como substituto, o jovem defesa tem tudo para exponenciar as suas habilidades, podendo ser esta a temporada definitiva de afirmação. Bale soube, no ano passado, aproveitar a presença de Modric, na faixa esquerda, para encetar raides mortíferos, sempre que o croata deambulava para posições mais centrais.

É igualmente na defesa que as dores de cabeça de Redknapp mais se fazem sentir. Com Woodgate a padecer dos seus crónicos problemas físicos, novamente afastado por um longo período de tempo, o treinador inglês tem à sua disposição um lote de jogadores pouco confiável, onde apenas Michael Dawson transmite a ideia de segurança. Ao seu lado, venha o diabo e escolha: Kaboul, Bassong e Ledley King, cada vez mais intermitente a nível exibicional e, também ele, afectado por problemas de lesões. Provavelmente, será este um dos postos que levará a um forcing final, por uma contratação acertada.

No meio-campo, para além da dupla de médios centros já falada, existe a prata da casa. Jamie O'Hara, conseguindo paulatinamente os seus minutos de fama, o veterano Jermaine Jenas [que nunca conseguiu demonstrar o potencial evidenciado no Newcastle] e os donos das faixas. Modric, no flanco esquerdo, e Lennon, o ultra-sónico internacional britânico, com o backup de David Bentley e Danny Rose.

A linha avançada vai receber, novamente, o proscrito Robbie Keane, depois da temporada passada na Escócia, nos católicos do Celtic. A fazer-lhe companhia estão Peter Crouch e Jermaine Defoe, dois dos integrantes da Selecção que esteve no último Mundial e o ex-futuro jogador leonino, Pavlyuchenko. Opções para todos os gostos, com Crouch a recolher, provavelmente, a maior parte dos elogios dos adeptos. Compreende-se. Foi seu o golo decisivo, na última partida frente ao City, que permitiu aos pupilos de Redkapp ocuparem a última vaga disponível para a participação na Liga dos Campeões.

É um plantel com soluções variadas mas que parece estar espremido ao máximo. E num ano em que as obrigações serão, forçosamente, superiores às do ano passado, o recurso ao mercado, dotando o plantel do binómio qualidade/quantidade, parece ser uma medida acertada. É crucial para o futuro dos Spurs, agora que o mais difícil foi conseguido. Chegar ao topo. Resta apenas dar o passo em frente, permitindo que a equipa, finalmente, lute pela prova máxima de clubes, em Inglaterra. Tem a palavra Levy...

* canção de apoio dos adeptos do Tottenham


Oh when the Spurs,
Go marching in,
Oh when the Spurs go marching in,
I wanna be in that number,
When the Spurs go marching in...

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