12 agosto 2010

Let the games begin...

Passada a euforia, pós Supertaça, é agora tempo de voltar as atenções para o início do campeonato. De forma rigorosa, o desafio que se depara ao corpo técnico portista é hercúleo. Reconquistar a hegemonia no futebol nacional, objectivo maior da temporada, não se afigura fácil.

O campeonato, verdadeira maratona de regularidade, colocará os Dragões à prova, inúmeras vezes. André Villas-Boas, mais descomprimido após o triunfo desejado, sabe que o plantel ainda não se encontra fechado. E, pior, padece de assimetrias gritantes, que serão um obstáculo suplementar a ultrapassar, nas próximas semanas.

A indefinição quanto à permanência de Raul Meireles e Fucile colocam, desde logo, uma série de problemas ao jovem técnico. O lado direito da defesa é um dos pontos fracos, facilmente detectado por qualquer adepto com tendências de opinador de bancada. Miguel Lopes, já se percebeu, é uma peça a mais neste elenco, um erro de casting que ainda não foi corrigido. Demasiado faltoso, com debilidades tácticas a nível defensivo, o ex-jogador do Rio Ave apenas acrescenta quantidade a uma posição carente de qualidade. Villas-Boas apercebeu-se, sagazmente, disso mesmo. Na Supertaça, o desafio mais complicado da pré-temporada, optou pela titularidade do romeno Sapunaru, mediano jogador, mas com capacidades defensivas superiores à do seu rival na conquista da posição. A permanência definitiva do uruguaio ganha assim foros de imprescindível. Fucile, se optar por repetir o arreganho, a raça e a qualidade postas ao serviço da Selecção azul-celeste, no recente Mundial, será um reforço de peso. Mas, aparentemente, alguém pensa de forma diferente, na SAD portista. O uruguaio desapareceu misteriosamente da lista de inscritos na Liga Europa, sinal claro de que a sua venda deve estar por dias. E lá continua o técnico portista a padecer com uma pré-temporada turbulenta, a nível de contratações...

Ainda na defesa, a saída de Bruno Alves, uma espécie de transportador da mística portista, dentro do campo, deixou-a orfã. Ironicamente, foi o seu parceiro de lado que, ao marcar o golo inaugural na vitória portista, apareceu a reivindicar o estatuto de "patrão" da defesa. Mas não será por aí. Tanto Rolando como Maicon são jogadores regulares, escudeiros que fazem o trabalho de sapa, mas incapazes de elevarem o jogo a um nível superior. Faz falta uma voz de comando, autoritária, alguém que consiga concentrar tudo o que de bom Bruno aportava à equipa. Serão os nomes falados, na imprensa, dignos sucessores? Tóloi é a prova provada de que hoje em dia a maioria das contratações é feita por intermédio do dvd ou usando a base de dados do Football Manager. Central brasileiro, internacional jovem, esteve no último Mundial sub-20, representando o Brasil na final perdida para o Gana. Jovem com elevado potencial, nunca poderia ser equacionado como alternativa imediata à saída de Bruno Alves. Seria uma aposta interessante, a médio prazo, algo que os espíritos mais impacientes da Invicta não permitem. É que eu ainda não me esqueci que Thiago Silva, igualmente brasileiro, foi contratado para de imediato entrar na onda dos empréstimos, até acabar por ver o contrato com a entidade patronal finalizar. Hoje em dia joga em S.Siro, como indefectível titular do Milão. Quanto a Otamendi, internacional argentino, a sua presença no último Mundial saldou-se por uma participação pouco relevante, a que não será alheia a utilização na faixa direita. Otamendi, pelas características habitualmente inatas aos jogadores argentinos, parece-me ser uma opção mais válida, esbarrando a pretensão portista no preço de mercado, superior a 8 milhões de euros...

A partir do meio-campo, as dores de cabeça aumentam, desta feita por bons motivos. Fernando tem a necessário competição interna, com a presença do brasileiro Souza, numa luta pela posição 6 que, salvo alguma surpresa, será do titular indiscutível do ano transacto. Com Moutinho de pedra e cal [e Meireles a tornar-se, a cada momento, uma enorme dor de cabeça a uma SAD que esturrou 11 milhões num jogador similar ao médio mais tatuado do Dragão], a luta pela posição que sobra será titânica. Belluschi ou Micael?

Sou um apreciador das capacidades do argentino, mesmo quando este as usa de forma intermitente. Dono e senhor de uma capacidade técnica muito acima da média, Belluschi tem vindo a acrescentar, ao rol de habilidades, uma notável entrega nas tarefas defensivas. Capaz de jogar a um ritmo elevado, mantendo pressão sobre os médios contrários e, mesmo assim, de aparecer nas zonas de finalização, leva nesta fase uma clara vantagem sobre o madeirense, ainda incapaz de mostrar no solo sagrado da Invicta os mesmos predicados que o tornaram um alvo apetecível, quando jogava na Madeira. Remanescente, neste lote de opções, um jogador da casa, acarinhado por uma imensa legião de adeptos. Castro, tirocínio feito na temporada passada no Olhanense, mostrou predicados que o podem tornar uma peça útil, em várias ocasiões. E, provando que a fartura é lema da casa, ainda temos Guarin, uma espécie de Jekyll & Hyde do Dragão, capaz de períodos extensos de alheamento, substituídos por outros onde a sua efectividade surpreende pela positiva. Será este o ano de Guarin?

Com um estranho 4-3-3 onde parece faltarem soluções efectivas para as bandas laterais [Mariano permanece lesionado, James Rodriguez está em processo de maturação e Cristian Rodriguez nunca se mostrou confortável nessas tarefas], Varela e Hulk têm imprimido o mesmo vigor dos períodos áureos da época passada. Varela continua a merecer encómios, pelo seu denodo, mas apresenta igualmente os mesmos problemas do ano passado. Jogador veloz, vive num paraíso quando os espaços aparecem, nas transições ofensivas que o Porto soube explorar genialmente, na Supertaça. O problema é que, na maior parte dos jogos, caberá aos azuis e brancos jogar em organização ofensiva, perante adversários recuados e que impiedosamente cerceiam os espaços.

Sobra Ukra, outro jogador da "cantera", cujos propalados dotes, pelos defensores da prata da casa, tardam a aparecer. Na frente, Falcao, subindo continuamente a sua cotação, no mercado internacional, e Walter, um brasileiro intérprete da 1ª novela do defeso. Morfologicamente forte, com um aspecto pesado, vem rotulado de goleador, parecendo possuir características distintas do seu colega de posição. E falta mais um.

Poderia ser Kleber, escolha primeira de Villas-Boas, mas a intransigência do Marítimo, aliada a uma descoordenação e ingenuidade atípicas na organização portista, têm adiado a sua chegada. Numa novela que se arrasta desde Junho, a SAD portista tem optado pelo habitual silêncio, enquanto continua a ver a honra ser abespinhada pelo pateta que preside aos destinos do Marítimo. Até quando tardará a resposta devida à personagem?

Num plantel que, como se vê, está longe se estar fechado, a qualidade abunda, maioritariamente do meio-campo para a frente.Entrando agora nas duas últimas semanas antes do fecho do mercado, espera-se um vigoroso forcing final, capaz de dotar o esquema táctico de AVB das armas necessárias para a luta pela vitória. Existe, neste esboço inicial, um predicado que parece querer transformar-se num dogma absoluto: a procura do esférico. Mais do que a procura, o enorme desejo de a manter, cativa, fazendo da posse da bola uma alteração radical ao espartilhado futebol da era Jesualdo.

1 comentário:

  1. Post com a chacela PP, muitas verdades, e sobretudo mto realismo na apreciacao...eu ate apostrofaria pessimismo em alguns itens que ficam nas entrelinhas, mas para me manter numa bitola de portismo praticado elevado...fico-me pela esperança de que todos estes "ses" sejam a pedra para um bom PORTO!!!

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