18 novembro 2010

Vick-Tória


Já o tinha dito aqui. Mas vale a pena repetir. Michael Vick é, actualmente, o mais empolgante jogador de futebol americano. Dito assim, soa algo banal. Mas para todos aqueles que estão familiarizados com o jogo, com a forte componente física que o envolve, transformando a maioria dos jogadores em guerreiros de capacidades sobre-humanas, apelidar um atleta de "mais empolgante" é um elogio e tanto. Numa liga em que os quarterbacks são as estrelas principais, Vick tem-se destacado. E de que maneira. A sua exibição, em Washington, foi soberba. A todos os níveis. Vick ditou as regras do jogo, logo desde início. Passou com precisão, a curta, média e longa distância. Correu como um demónio, quase troçando dos defesas dos Redskins. Teve uma leitura do jogo magnífica, mesclando o jogo aéreo com o corrido. E aí, igualmente deixou a sua marca. Os números finais [Vick descansou durante o 4º período] são elucidativos: 20 passes certeiros em 28 tentados. 413 jardas totais [333 pelo ar e 80 corridas]. 6 touchdowns [4 passados e 2 corridos]. Uma exibição memorável.

Tudo isto vindo de um jogador terrivelmente promissor, na universidade, que confirmou desde a sua entrada na NFL os predicados. Nos Falcons, mostrou ser um jogador electrizante, decisivo, capaz das "big plays", tão do agrado dos americanos. A sua escolha para o jogo das estrelas (Pro Bowl) não surpreendeu ninguém. Mas, quase como se resolvesse ser o actor principal numa tragédia grega, Vick despenhou-se do Olimpo onde vivia até às profundezas do inferno.

Num escândalo que abalou os alicerces moralistas da América, Vick foi preso, depois da descoberta que praticava lutas ilegais de cães na sua mansão. Perdendo as temporadas de 2007 e 2008, ostracizado por aqueles que antes o idolatravam, Vick parecia destinado a uma travessia do deserto. Com a opinião pública chocada com o lado negro da vedeta, capaz de mutilar cães por mero prazer, foi a mão amiga de Donovan McNabb, então o quarterback dos Philadelphia Eagles, que o trouxe para uns treinos, com o beneplácito de Andy Reid, o head coach.

Daí até à entrada no plantel foi um curto passo. Sempre debaixo do jugo da opinião pública, Vick recuperou paulatinamente o seu espaço. No final da temporada de 2009, Andy Reid não teve qualquer dúvida, quando foi necessário desfazer-se de um dos quarterbaks da equipa. Entre Vick, Kvin Kolb e Donovan McNabb, foi a este último que saiu a fava. 11 anos depois, McNabb arrumou as malas e partiu de Filadélfia. Com dois promissores quarterbacks na equipa, Reid não protelou muito a tomada de decisão. Kevin Kolb era a sua escolha para titular. Compreende-se. A escolha de um rosto, para ser a imagem da franquia, é de enorme importância. Novamente o passado de Vick parecia ditar as regras, impedindo-o de ser aquilo a que parecia estar fadado: uma estrela refulgente.

Mas, nestas coisas, o destino costuma troçar dos planos previamente feitos. Clay Matthews, que joga como linebacker nos Packers e parece estar possuído em qualquer partida, caçou literalmente Kolb, durante o encontro entre as suas equipas. Os vários sacks provocaram uma concussão a Kolb e abriram as portas da titularidade a Vick. E nem mesmo uma lesão, quando foi ensanduichado no jogo em casa frente aos Redskins, que lhe fez perder três partidas, o retirou da ribalta. Esta parece ser a temporada de Vick. Jogador ofensivo do ano. MVP da temporada. E, quem sabe, até o próprio título. Tudo parece possível quando se joga daquela forma mágica.

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