16 agosto 2010

Manchester City: Glória ou Fracasso?

Verão. 2008. O mundo do futebol em geral olhou, com alguma incredulidade, para a movimentação de bastidores, na Velha Albion. O City, segunda equipa de Manchester, aprestava-se a ser adquirida, num daqueles movimentos cada vez mais regulares nos mercados futebolísticos, pelo grupo Abu Dhabi United. Um olhar, mesmo que superficial, para o portefólio do grupo financeiro, faria muitos interrogarem-se se os blues de Manchester teriam a mesma sorte dos parceiros de cor azul, sediados em Londres. Abramovich, após sucessivas injecções de libras, conseguiu elevar o Chelsea a força dominante no kick and rush britânico. E o City?

A resposta não tardou. A ambição parecia ser a tónica dominante. Robinho, aureolado com a presença habitual na mais mediática das selecções mundiais, foi resgatado, à força do dinheiro, do desterro em Madrid. A balança acusou bem o esforço despendido. 32,5 milhões de libras. Qualquer coisa como 45 milhões de euros. E o mundo do futebol suspendeu a respiração, por instantes, perante a ousadia...

Os resultados, no entanto, deram razão aos mais cépticos, sempre lestos a lembrarem que o "dinheiro não é tudo". Não é, como comprovam a total ausência de títulos, desde a contratação de Robinho. Mas, mesmo desbaratando alguns milhares de preciosas notas em contratações absurdas, tem sido notório o investimento mais criterioso nas últimas janelas de transferência.

E, novamente, as comparações inevitáveis com o megalómano sonho de Abramovich vieram à tona. O magnata russo demorou a perceber que, mais do que o dinheiro investido, de forma colossal, era necessário um critério definido, uma linha de rumo, uma forma de pensar equilibrada e sustentada. Ranieri saiu. Mourinho chegou. E o futebol inglês nunca mais foi o mesmo...

Problema nrº 1: Mourinho não está disponível no mercado.
Problema nrº 2: Mancini não é Mourinho.

E assim, enquanto o Chelsea foi erguendo o troféu de campeão com assiduidade, o City continua enclausurado regionalmente, tentando uma emancipação que tarda a chegar. Mas a paciência e a perseverança parecem ser as palavras da ordem, no City. Para um clube que, na época 2001-02, jogava no escalão secundário, os progressos têm sido assinaláveis. Mas continua a faltar algo...

A reorganização, sofrida desde a chegada do novo dono, parecia ir produzir resultados, na época de 2009-10. O plantel fazia suspirar os mais fervorosos fãs. Uma defesa reforçada, com as chegadas de Lescott e Touré, roubado ao Arsenal. Uma consolidação defensiva que passa pela presença de Micah Richards, a next big thing futebolística de terras de Sua Majestade, e pelo corno Wayne Bridge, mais falado pela traição sofrida pelos dotes íntimos de John Terry do que pelas suas evidentes habilidades desportivas.

Mostrando um comedimento pouco usual, as contratações foram efectuadas de forma cirúrgica. Gareth Barry, o ídolo do Aston Villa, aceitou fazer as malas para o City, em troca de um ordenado milionário. E, cereja no topo do bolo, a frente de ataque, ainda com o "veterano" Robinho e com o guerreiro Tevez, conheceu a chegada de novo senhor feudal: Adebayor, ministrando um golpe tremendo no âmago dos gunners...

E o vendaval ofensivo, na maioria das partidas, não se fez esperar. Mesmo com a estranha substituição do timoneiro [saída de Mark Hughes, após uma vitória por 4-3 sobre o Sunderland] os sky blues continuaram a marcar. E a sofrer, mostrando que a eficiência defensiva não era a melhor. O golpe, que poderia cercear os limites da ambição, veio de forma cruel na última jornada. Num embate de titãs, com a disputa do último lugar de acesso à Champions em jogo, o City foi amargamente derrotado pelo rival directo, o Tottenham.

Se alguém equacionava um desinvestimento, face ao amargo de boca produzido pelo apuramento para a Liga Europa, enganou-se. Com uma presença firme no mercado de transferências, a mensagem foi clara: Queremos ganhar, custe o que custar.

Mansour bin Zayed Al Nahyan não economizou. Foi buscar uma das agradáveis revelações do Mundial da África do Sul. Jerome Boateng, ex-Hamburgo, por 10.5 milhões de libras. Reforço interessantíssimo, o melhor até agora na relação entre o investimento e a potencial contribuição. Boateng é defesa-central e a tendência é que, em algum tempo, seja utilizado nessa posição. Contudo, a sua polivalência permite-lhe jogar em ambas as laterais.

Yaya Touré, ex-Barcelona, por 24 milhões de libras. Etiquetado com um preço destinado a artigos de luxo, o suplente de Sergio Busquets também é uma aquisição interessante. Irmão do central Touré, Yaya pode dar outra dimensão a uma zona que evidenciou vários problemas ao longo da temporada passada: o meio-campo. Com Barry fora de forma, facto que foi evidenciado na participação inglesa no Mundial, a combatividade de Touré pode ser uma arma importante, complementando-se com a generosidade física de Jong.

David Silva, ex-Valencia, 25 milhões de libras. Pese o preço, Silva é um jogador com um potencial enorme, suprindo uma das lacunas evidentes no City: o jogo pelos flancos, onde um inconstante Wrigth-Phillips pouca dimensão acrescenta ao lado direito e apenas a utilização de Bellamy, no lado esquerdo, impede a equipa de ficar estrangulada num afunilamento táctico. Provavelmente, face à descoberta de Adam Johnson, usurpando o lado direito, será na esquerda que Silva terá oportunidades de brilhar.

Kolarov, ex-Lazio, 15 milhões de libras. O desejo secreto de Mourinho esfumou-se, face ao valor de mercado do defesa sérvio. Kolarov junta-se a Boateng na missão de estancar as debilidades sentidas, ao longo do ano, nas laterais da equipa.

Last, but not the least, aterrará brevemente em Manchester mais um astro. Balotelli, a última extravagância do árabe, chega para se juntar a um grupo de egos sobre-dimensionados. A prima donna italiana, cujos amuos constantes e caprichos de vedeta retiram brilho às habilidades futebolísticas, constituirá uma importante arma ofensiva para Mancini, que terá que suportar e disciplinar convenientemente o antigo pupilo de Mourinho.

Roberto Mancini, agora coadjuvado pelo seu antigo colega na Sampdoria Attilio Lombardo, vai viver numa panela de pressão. O forte investimento obriga-o a, pelo menos, assegurar um lugar nos 4 primeiros, na temporada 2010-11, levando o City ao mediático mundo da Liga dos Campeões. A tarefa não se afigura fácil, face ao nível dos contendores. Basta contar pelos dedos os putativos candidatos aos postos cimeiros: Manchester United, Chelsea, Arsenal, Liverpool, Tottenham e Aston Villa [apesar da abrupta saída de O'Neill indiciar desagrado pelo não investimento recente]. Demasiados galos para tão poucos poleiros. Será a gestão do técnico italiano a principal responsável pela glória ou fracasso do City, na temporada que se avizinha. Terá, para já, dois enormes imbróglios para resolver. Robinho, eterno descontente, nunca conseguiu cumprir o que levianos profetas declararam, anos atrás: este era o novo Péle. Notabilizando-se no Santos, o internacional canarinho tem oscilado regularmente a nível exibicional. O seu preço, proibitivo para a maioria das bolsas [falou-se no interesse do Barcelona], torna-o num problema de difícil resolução. Ou aparece algum mecenas que o resgata do provável opróbrio na fria Inglaterra, ou teremos um jogador psicologicamente depressivo e desmotivado, até ao final do contrato, em 2012.

Se já não bastasse o dilema Robinho, também o galês Bellamy, um dos mais destacados jogadores do ano passado, tem mantido um braço-de-ferro com o clube, procurando por todos os meios libertar-se do jugo patronal, face à provável permanência no banco de suplentes, perante a competitividade esperada na frente de ataque.

Ironicamente, o arranque da Premier League, versão 2010/11, foi feito contra o algoz do ano passado: o Tottenham. O milagroso empate arrecadado tem que ser considerado positivo, face ao intenso domínio a que os sky blues foram sujeitos. Numa constelação de estrelas, foi o quase desconhecido Joe Hart, keeper do City, que salvou a face do emblema, com intervenções providenciais. A 2ª jornada promete igualmente emoções fortes, com a recepção ao Liverpool. Será desta que o City assume definitivamente a condição de potência maior do futebol inglês?

2 comentários:

  1. Porra! Não há pachorra para ler tanta coisa!!! Espero, ao menos, que não te tenhas esquecido do Kranjkar lá do sítio!

    P.S.: PORTENTOSO O NOVO BANNER!!!.....

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  2. O banner não está mau de todo, sinceramente...

    Quanto ao resto, estou a pensar colocar duas versões do artigo, sendo uma delas resumida, preferencialmente do género do twitter, com poucos caracteres, para não fazer a malta perder tempo com essa coisa estranha da leitura...

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