25 agosto 2010

Guerreiros do Minho

Não podia faltar um elogio, mesmo que tardio, ao Braga, que ontem conseguiu a proeza de me colocar a gritar "golo", sem o seu marcador estar vestido de azul e branco [ou amarelo, numa daquelas concessões incompreensíveis aos técnicos do marketing].

Antes de tudo o mais, é salutar verificar que o trabalho de sapa, engendrado anos a fio por António Salvador, conseguiu finalmente os seus frutos. O Braga sobe a pulso ao grupo de eleitos que, em Portugal, se auto-designam de "grandes". O feito, ontem conseguido, representa muito mais do que o acesso a um cofre inesgotável de milhões de euros. Constitui a apresentação, qual baile de debutantes, do clube ao velho continente. Sem constrangimentos, nem vergonhas pudicas, os pupilos de Domingos conseguiram aquilo que foi vedado aos seus rivais do Minho.

O Guimarães, com oportunidade idêntica, em 2008, esbarrou no provincianismo e subserviência de Emílio de Macedo e seus lacaios, mais dispostos a entrarem em intrigas palacianas, visando a destituição do Porto do lugar alcançado dentro de campo, do que em fortalecerem equipa perante uma oportunidade única.

Num projecto sólido, construído laboriosamente nas últimas temporadas, o dedo de Carlos Freitas [um profissional que vai coleccionando grandes trabalhos] fez-se sentir, na aposta pessoal que se sentou no banco. Domingos Paciência, no low profile habitual, merece uma enxurrada de loas, tamanha tem sido a prestação do técnico português.

Chegado a Braga, com uma herança difícil depois do 5º lugar de Jorge Jesus, o antigo jogador portista foi estigmatizado por pensar pela própria cabeça, rapidamente submergido num coro de críticas dos habituais predadores que se escudam em artigos de opinião nos pasquins cá da praça. A desilusão europeia precoce, na primeira época, alimentou ainda mais a contestação, silenciada com a caminhada rumo ao 2º lugar. E Domingos cumpriu o que prometeu. Fazer melhor do que Jesus...

Ontem, em Sevilha, foi o culminar de um sonho, com uma equipa de jogadores operários, comprados por tostões, a apontarem a porta de saída ao ultra-favorito clube espanhol. Mais do que o trabalho defensivo ou a entreajuda entre sectores, merece destaque a frieza em momentos cruciais e uma finalização atípica ao futebol luso, com um aproveitamento de quase 100%. Mesmo que, por momentos, a inexperiência tenha provocado algumas dúvidas, sobretudo na parte final, quando a asfixiante pressão andaluza quase provocava uma remontada espanhola, a equipa conseguiu evitar o soçobrar, entrando definitivamente na história do futebol tuga. Depois de Porto, Benfica, Sporting e Boavista, eis que o Braga chega à Liga dos Campeões...

Será curioso analisar, agora, como será a temporada bracarense, sujeita a um desgaste a que não estão habituados, forçados a uma competitividade que continua ausente da maioria dos jogos do campeonato nacional.

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